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A institucionalização do antissemitismo no Partido Trabalhista sob a liderança de Jeremy Corbyn

Foto do escritor: Daniel PimentaDaniel Pimenta

Atualizado: 30 de out. de 2019


Em 2015 com a renúncia de Ed Milliband e com a eleição de Jeremy Corbyn como líder do partido Trabalhista, a substancial mudança nas posições tradicionais do partido foram visíveis, deixando de ser o centro do mainstream partidário britânico. Os trabalhistas, humilhados por mais uma derrota para Partido Conservador, liderados a época pelo Primeiro-Ministro David Cameron, elegeram Corbyn com a perspectiva de renovação do partido. Fato é que Corbyn, um socialista e anti-monarquista convicto, lidera hoje o mais importante partido da oposição, e o moldou de acordo com suas preferencias ideológicas. Pode parecer irônico, mas um anti-monarquista lidera hoje a "Lealíssima Oposição de Sua Majestade".


Corbyn tomou o partido e o afastou do movimento centrista New Labour, liderados pelos ex-primeiros-ministros Tony Blair e Gordon Brown, e do setor social democrata que comandava o partido durante décadas. Um partido trabalhista completamente remodelado, diferente daquele liderados por Ramsay MacDonald, primeiro trabalhista a ser Primeiro Ministro (1929-1935), Harold Wilson (1963-1973), Neil Kinnock (1983-1992) e se tornou um partido de extrema esquerda com ares latino-americanos e um toque leste-europeu, inclusive no tom autoritário e na obrigação de culto ao líder.


O perfil de Jeremy Corbyn nunca foi convencional dentro do Partido Trabalhista. Membro do Parlamento por Islington North desde 1983, manteve ao longo de seu período como backbencher (deputado sem cargo no governo ou oposição) uma certa coerência em suas posições: republicano, eurocético, contra a OTAN (NATO), pró-palestina, antissionista e antissemita. Após o Referendo de 2016, Corbyn apesar de ser eurocético, defendeu, juntamente com a maioria do Partido Trabalhista a de permanência do Reino Unido na União Europeia.


Bloqueou todos os acordos negociados pela então Primeira-Ministra Theresa May. Com a chegada de Boris Johnson ao poder em julho deste ano, e com a promessa de entregar o Brexit em 31 de Outubro, Jeremy Corbyn assumiu uma posição de obstrução aos planos do governo e patrocinou uma lei, juntamente com tories rebeldes, que impedia o governo de entregar o Brexit sem acordo e sem a anuência do parlamento, entregando toda a vantagem do governo para Bruxelas. Literalmente, um eurocético que se tornou um eurocentrista fervoroso, defendendo com unhas e dentes a União Europeia e sendo o fiador da permanência na União Europeia, ou melhor, do adiamento do Brexit.

Declarações antissionistas e antissemitas de membros do partido como do ex-prefeito de Londres, Ken Livingstone, de que "Hitler, hoje seria Sionista" e de que o "Sionismo é o novo Nazismo" levaram a protestos dentro do próprio partido. A institucionalização do antissemitismo no Partido Trabalhistas se deu com a chegada de Jeremy Corbyn e com a influência do "Socialist Campaign Group of Labour MPs". A tentativa de se redefinir o significado de antissemitismo foi apoiada pela ala socialista e antissionista, e tinha como objetivo blindar os antissemitas do partido e impedir que sejam punidos, como foram no passado.  A reação dos deputados judeus trabalhistas foi imediata, mas abafada pela liderança do partido. Uma das vozes mais ressoantes contra Jeremy Corbyn e sua trupe antissemita, foi a deputada por Liverpool Wavertree desde 2010,Luciana Berger, que enfrentou a liderança do partido nacionalmente e no próprio distrito, foi ameaçada de morte, estupro e ser expulsa do partido e perder o mandato de deputada. Berger afirmou que o antissemitismo no Partido Trabalhista é "comum, conspícuo e corrosivo ".

Decidiu sair do partido e hoje faz parte do Liberal Democrats e declarou "Estou deixando para trás a cultura de intimidação, bulling e intolerância". Se por um lado Corbyn e sua turma de antissemitas quiseram intimidar e reduzir a importância de membros judeus do próprio partido, o tiro saiu pela culatra. Deputados como Ivan Lewis passaram a utilizar a Kipah durante os debates na Câmara dos Comuns e a criticar Jeremy Corbyn por seu papel na transformação do Partido Trabalhista em um partido de antissemitismo institucionalizado. O Partido Trabalhista ainda perdeu boa parte dos seus deputados e membros judeus, vem reduzindo sua popularidade dentro da Comunidade Judaica Britânica. Os votos que antes eram dos Trabalhistas estão migrando para os Liberais Democratas e os Verdes. Ou o partido retorna as suas bases ou irá virar um partido secundário na política Britânica.


Mas afinal qual é a definição de antissemitismo?

A definição sobre antissemitismo, surge em 2005 pelo então European Union Monitoring Centre on Racism and Xenophobia, hoje European Union Agency for Fundamental Rights e passou a ser adotada como padrão por todo o mundo, inclusive o Departamento de Estado dos USA,além de mais de 40 países que fazem parte do International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA). Desde 2016, o Governo e o Parlamento Britânico adotam a Definição Internacional sobre Antissemitismo.


A Definição Internacional, considera que antissemitismo é o ódio e atos violentos contra judeus. As manifestações do antissemitismo são direcionadas a indivíduos judeus ou não-judeus, suas propriedades, comunidades e templos religiosos.


As manifestações podem incluir o atacar o Estado de Israel, que é concebido por uma coletividade judaicas, todavia críticas feitas a Israel como qualquer outro país não devem ser consideradas antissemitas. O antissemitismo frequentemente acusa judeus de conspirarem para prejudicar a humanidade e por qualquer coisa que dê errado. É expresso pela fala, escrita, imagens e ações, e emprega esteriótipos e traços negativos de caráter.

Exemplos de antissemitismo na atualidade na vida pública, mídia, escolas e universidades, no local de trabalho e na esfera religiosa incluem, mas não se limitam a:

  • Acusar judeus como povo, ou Israel como estado, de inventar ou exagerar o Holocausto. Apelando, ajudando ou justificando o assassinato ou dano a judeus em nome de uma ideologia radical ou de uma visão extremista da religião.

  • Fazer alegações mentirosas, desumanizantes, demonizadoras ou estereotipadas sobre os judeus como tais ou o poder dos judeus sobre a sociedade - como, especialmente, as não exclusivamente, o mito sobre a conspiração judaica mundial ou sobre judeus controlando a mídia, economia, governo ou outra instituição da sociedade.

  • Acusar judeus como pessoas de serem responsáveis por transgressões reais ou imaginárias cometidas por uma única pessoa ou grupo judaico, ou mesmo por atos cometidos por não judeus.

  • Negar o fato, o escopo, os mecanismos (por exemplo a utilização do gás Zyklon B e as câmaras de gás) ou a intencionalidade do genocídio do povo judeu nas mãos do regime Nazista e seus apoiadores e cúmplices durante a Segunda Guerra Mundial.

  • Negar o acontecimento do Shoah (Holocausto).

  • Negar ao povo judeu seu direito à autodeterminação e da existência do Estado de Israel ou quaisquer outros Estados judaicos que possam existir.Aplicação de padrões duplos, exigindo de Israel um comportamento não esperado ou exigido de qualquer outro país democrático.

  • Utilização de símbolos e imagens associados ao antissemitismo clássico, como reivindicações de que judeus mataram Jesus ou o libelo do sangue, para caracterizar Israel, israelenses e judeus.

  • Fazer comparações da política Israelense contemporânea com a dos nazistas.

  • Responsabilizar coletivamente judeus pelas ações do Estado de Israel.

Antissemitismo, na prática, é o mesmo que Antissionismo. As ações daqueles que se dizem ativistas antissionistas são as mesmas dos antissemitas. A ascensão de indivíduos antissemitas às posições de destaque como Bernie Sanders nos Estados Unidos, Jeremy Corbyn no Reino Unido representa um retrocesso a uma ideologia que culminou na morte de milhões no século passado. 



 

*Daniel Pimenta - Graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-Minas

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