Se em 2019 ou até mesmo no início deste ano me perguntassem se haveria alguma chance de Donald Trump perder a sua reeleição, diria que era algo extremamente improvável. A economia ia bem, o índice de desemprego era o mais baixo da história, a desregulamentação de diversos setores era o maior desde Ronald Reagan e a boa avaliação da administração em estados chave como Michigan, Pennsylvania, Florida e Wisconsin era a fórmula perfeita para mais 4 anos da Administração Trump.
Se me perguntassem se Joe Biden seria o candidato democrata e por sua vez o vitorioso nas eleições de 3 de Novembro, diria que era loucura. Joe Biden era de longe o candidato menos apto, em termos de popularidade, para unificar o partido e bater Sanders, Warren, Bloomberg, Butigieg e Klobuchar, nas primárias. Se no início das primárias todos achavamos que seria uma vitória fácil de Bernie Sanders ou de Michael Bloomberg, o bom resultado de Butigieg e Klobuchar em Iowa e New Hampshire demonstrou que não seria tão fácil para Sanders. A vitória esmagadora de Biden nas primárias de South Carolina, em especial com seus bons números entre os eleitores negros, fez com que voltasse, e com tudo, ao páreo. Com a perspectiva de Biden se firmar como um forte candidato da ala moderada do partido, Klobuchar e Butigieg suspenderam as suas campanhas e declararam seu apoio ao ex-vice-presidente. Na Super Terça, venceu em 10 das 15 primárias, se confirmando como favorito. Com o péssimo desempenho na Super Terça, foi a vez de Bloomberg e Warrem suspenderem a campanha. Em Abril, com a explosão de casos de COVID-19, o adiamento de diversas primárias e o apelo para se suspender a campanha, Bernie Sanders desistiu da sua candidatura, endossou e pavimentou o caminho de Joe Biden para se tornar o candidato do partido democrata, antes mesmo da Convenção em Agosto.
Ao contrário de 2016, onde o partido saiu dividido da convenção, entre apoiadores de Hillary Clinton e de Bernie Sanders, desta vez o partido estava coeso e empenhado, não só em tirar Donald Trump da Casa Branca, mas também em controlar as duas casas do Congresso. Esse era o objetivo democrata, e uma disputa até as convenções ou uma recusa de Bernie Sanders em apoiar Joe Biden, atrapalharia e muito o objetivo do partido.
Desta forma, democratas de todas as linhas políticas, além de republicanos moderados, como os Bush e os McCain, descontentes com a administração Trump, se uniram em torno de Biden e sua, mais tarde, companheira de chapa, Kamala Harris. No Arizona, os McCain juntamente com Mark Kelly e Kyrsten Sinema, podem fazer com que Biden vença e leve o estado para o lado democrata. Já no Texas, Beto O'Rourke juntamente com os Bush, podem fazer o estado ficar azul pela primeira vez desde Jimmy Carter em 1976. E na Georgia, onde a área de Atlanta pode se tornar tão relevantemente democrata que irá influenciar a política estadual, com a ajuda de Abrams, Warnock, Ossoff e Lieberman.
Esta projeção foi feita com base em monitoramento diário de pesquisas a nível nacional, estadual e por vezes distrital para os cargos de presidente, senador e deputado, índices de aprovação, dados de registro eleitoral dos eleitores e sua alteração em relação as eleições anteriores, além do histórico eleitoral.
Uma coisa que as eleições de 2016 ensinaram foi que, confiar 100% nas pesquisas eleitorais são incapazes de prever as tendências eleitorais, extremamente voláteis nos Estados Unidos. Não conseguir detectar a insatisfação da população de baixa renda em estados do Cinturão da Ferrugem com as políticas da administração Obama e o seu alinhamento com ideias protecionistas e anti-imigratórias, fizeram com que a maioria dos analistas errassem em suas projeções.
Projeção para 3 de Novembro
Joe Biden/Kamala Harris: 306 delegados
Donald Trump/Mike Pence: 232 delegados
Joe Biden venceria no Arizona, Wisconsin, Michigan, North Carolina e Pennsylvania além dos 2º distritos de Nebraska e Maine. E poderia vencer ainda na Georgia, Flórida, Texas Ohio e Iowa, sendo os dois primeiros mais prováveis do que os três últimos, expandindo ainda mais sua vantagem sobre Donald Trump.
Enquanto isso, Donald Trump poderia vencer no Cinturão da Ferrugem novamente (Michigan, Wisconsin e Pennsylvania) além de North Carolina, mesmo com as pesquisas dizendo o oposto. A força de Trump na Flórida e Georgia pode fazer que na reta final, leve estes estados por uma margem menor do que nas eleições de 2016. Uma vitória de Trump na Pennyslvania e/ou Michigan o levaria a estender mais 4 anos na Casa Branca.
Tudo pode acontecer em 3 de Novembro, e para isso, é necesário observar alguns Estados na apuração dos votos.
Estados para se observar em 3 de Novembro
Observando a corrida nos 50 estados + o Distrito de Columbia, a disputa ocorrerá realmente em cerca de 12 estados, sendo que em 3 deles, até a eleição de 2016 eram caracterizados como Red States (Estados Republicanos): Texas, Arizona e Georgia. Os outros 9 são os tradicionais tipping points (estados decisivos ou chave) das ultimas eleições: Florida, North Carolina, Pennsylvania, Ohio, Michigan, Wisconsin, Iowa e os 2º Distritos de Nebraska e Maine.
Na noite do dia 3 de Novembro são estes os estados que devemos prestar atenção. A repercussão de uma hipotética vitória democrata no Arizona, Texas, Georgia e Ohio, renderia uma tendência democrata nestes estados.
O resultado destas eleições será acirrado e extremamente conturbado. O alto número de eleitores por voto postal, vai criar uma demora na divulgação dos resultados oficiais, deixando as atualizações de contagem de votos como uma mera projeção parcial. Isso acontece por conta da legislação eleitoral de alguns estados, como a Pennsylvania que permitem que votos postados no correio até o dia da eleição podem ser contado, atrasando a divulgação do resultado final em dias. Esses votos podem ser decisiveis para virar um resultado, e quem sabe a eleição.
Daniel Pimenta, graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), especialista em política eleitoral com foco na política Israelense, Britânica, Americana e Portuguesa.
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