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Nazismo não é apenas contra judeus. É contra os negros, gays… é contra a vida!

Foto do escritor: O JabotinskyO Jabotinsky

Atualizado: 18 de jan. de 2020



Este artigo é uma junção de dois artigos que Ricardo Kertzman publicou em seu blog e que gentilmente cedeu ao O Jabotinsky


AVISO: CONTÉM UM TEXTO LONGO E PARA POUCOS!!

Roberto Alvim, secretário especial da cultura do governo federal, não é um homem brilhante. Ao contrário. Dono de frases desconexas e opiniões saídas das profundezas da ignorância, compete de “igual para igual” com alguns dos seus mais notórios colegas de ministério.

O governo Bolsonaro vem colecionando feitos fantásticos nas áreas econômica, de infra-estrutura e segurança pública. Só não enxerga quem não quer. Infelizmente, tal padrão não se repete em outras searas. Comunicação, Educação e Meio-ambiente são exemplos diários do desastre que tomou conta da Esplanada dos Ministérios.

Pois bem. Alvim resolveu “dar um salto de qualidade”. Resolveu retirar do Pódium da Estupidez o trio Fabio Wajngarten, Ricardo Salles e Abraham Weintraub. O energúmeno gravou um vídeo, de tal sorte repugnante, que até os mais próximos apoiadores encontram-se indignados. Assista.


Troquem o terno por uma farda militar qualquer e terão ali, sentado, um tirano sanguinário em busca do mais cruel totalitarismo.

Troquem o terno por uma camisa de força e terão ali, sentado, a versão tupiniquim do famoso personagem Hannibal Lecter, do escritor Thomas Harris, imortalizado por Anthony Hopkins, no memorável filme “O Silêncio dos Inocentes”, de 1991.

Troquem o terno pela farda nazista de Joseph Goebbels (1897-1945) e terão ali, sentado, a versão do século XXI de um dos maiores responsáveis pelo extermínio de milhões de pessoas.


Eu sei que é difícil, mas revejam o vídeo. Reparem no olhar distante, perdido, como que sonhando acordado com o seu país-perfeito, onde a Cultura obedece aos mais rígidos padrões estético e moral do próprio tirano que nos fala.

Reparem nas expressões faciais; no entorno dos lábios. Roberto Alvim emula os mais sádicos torturadores do cinema dramático. Esse sujeito ou resolveu atuar (muito bem, por sinal!) ou é de fato um psicopata que precisa de atendimento psiquiátrico imediato.

Como se não bastasse, como se a vergonha não fosse suficiente, o infeliz “copiou e colou” trechos dos discursos de Goebbels (o responsável pela propaganda nazista), ao som de… Wagner!! O preferido de… Hitler!! 

Que raios esse idiota ingeriu (ou inalou) antes de idealizar, produzir, sentar, gravar e publicar uma porcaria dessas? Quantas chances essa besta-fera não teve para repensar, analisar e desistir, antes de seguir em frente com algo assim? Não seria raso dizer que esse sujeito se inspirou numa peça de comunicação nazista, utilizando o mesmo conteúdo e a mesma forma, pois as semelhanças são gritantes. Inclusive a expressão facial do safado!


O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, por Twitter, se manifestou de forma contundente: “O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo”.

Além de Maia, diversos políticos se manifestarem no sentido da impropriedade das falas, e associações judaicas por todo o País também criticaram o teor nazista do vídeo.

Já o próprio Alvim, pasmem!, admitiu que a “frase copiada” do nazismo é perfeita! Duvidam? Segue o link com as palavras do admirador subliminar de Hitler.


Eis aí. O que era, digamos, velado, assume ares de confissão. Até então insuportavelmente mudo, Jair Bolsonaro resolveu demitir o aloprado. Fez bem. Fez muito bem! Ou seria, como de costume, taxado como nazista. Desta vez, com razão.

Que sirva de exemplo para outros ministros e secretários deste governo. E que seja o padrão, de agora em diante, de comportamento do próprio presidente. Falou besteira… rua! 


RELATO PESSOAL DO AUTOR


Sou judeu de pai e mãe; de avós e bisavós; e tataravós (ou trisavós, quem preferir). Anterior a essa geração, eu não sei.

Cresci em um ambiente relativamente neutro em relação ao judaísmo. Em Brasília, onde nasci e residi até os dez anos de idade, praticamente não havia colônia judaica. Estudei em escola cristã (Colégio Marista), frequentei um clube “cristão” (Country Club) e convivi apenas com cristãos

Por que disse “relativamente” acima? Porque ouvi, inúmeras vezes, em brigas de crianças ou deboche dos mais velhos, a alcunha “judeu”. Notem: ainda ouço com relativa frequência, mas 99.99% das vezes vêm de amigos queridos, por uma adjetivação carinhosa, como quando chamamos alguém de “turco”, “baiano” ou “negão”.

BELO HORIZONTE

Em 1977 me mudei para Belo Horizonte. Ali surgiu o contato com “judeus”, como eu. Ainda que não estudasse numa escola judaica (Theodor Herzl), uma das melhores e mais bem conceituadas instituições de ensino da cidade – eu estudei no Colégio Santo Antônio – , passei a frequentar os clubes israelitas da cidade, onde fiz grandes e queridos amigos que enriquecem minha vida até hoje.

Neste período, já adolescente, percebi que todos sofriam, como eu, vez ou outra, a mesma forma de discriminação que eu sentia em Brasília. Naqueles tempos, a influência das gerações passadas ainda era muito forte, e a garotada cresceu aprendendo que: os judeus mataram Cristo; que eram avarentos; que só casavam entre si, para não dividir a herança; e outras besteiras do gênero. Daí, mais que natural o tipo de preconceito à época.

[Importante: jamais sofri – ou vi ou tive notícia sobre alguém que sofreu – qualquer tipo de violência física ou mesmo privação de liberdade (locomoção, pensamento, prática religiosa etc) em toda minha vida]

ESTRUTURAL

Frequentemente ouço a expressão “estrutural” para definir o tipo de racismo existente no Brasil. O mesmo adjetivo é muito utilizado em relação ao machismo. Como, infelizmente, movimentos legítimos de igualdade racial e de gênero foram sequestrados por grupelhos mesquinhos, ideologizados e fisiológicos, a sociedade, como um todo, passou a não se importar com as agruras de certas “categorias”, como mulheres e negros.

Quando feministas acusam todos os homens de serem “machistas estruturais”, ou pior, “estupradores potenciais”, o conceito legítimo se perde e cai na vala comum da guerra ideológica – normalmente cega, surda e burra!

De igual sorte (no caso, azar), toda vez que um movimento “em tese” defensor dos negros acusa todos os brasileiros de “racistas estruturais”, igualmente atira uma causa nobre no bueiro dos extremos. Até porque, convenhamos, o termo “estrutural” admite uma miríade de interpretações.

SOU RACISTA E HOMOFÓBICO?

“Ricardo, você gostaria que sua filha se casasse com um negro”? Sendo sincero, não. Por quê? Porque sei que seria objeto de olhares e comentários maldosos; que seus filhos sofreriam o que eu sofri (sendo judeu); porque a questão racial estaria sempre ao redor da sua família, etc, etc, etc... E só! Repito: e só! Outra vez: e só!

Para mim, absolutamente nada, além disso. Cor da pele, etnia, religião, não me dizem nada. Não definem nada. Por isso me casei com uma cristã. Por isso tenho amigos íntimos (íntimos de verdade!!) negros e gays. Por isso alguns dos meus mais antigos e melhores amigos são “turcos”. Por isso abraço e beijo todos eles. Inclusive desconhecidos, quando estou no estádio e meu time marca um gol importante. Mas, dentro das possibilidades da expressão, sou um “racista estrutural”.

Se minha filha, ao crescer, se definir sexualmente pelo mesmo gênero, irei gostar? Não. Sou um “homofóbico estrutural”. Em tese, sim. Eu uso expressões como “ela é o homem da casa”, para me referir aos casais onde a esposa possui um emprego melhor e sempre toma a frente das decisões? Sim; uso. Isso me torna um “machista estrutural”? Provavelmente.

NAZISMO NÃO É APENAS ANTISSEMITISMO

Pois é. Antissemitismo também é – ou pode ser – estrutural. Talvez meus sogros, à época, antes de me conhecerem melhor, preferissem que a filha não namorasse um judeu. Talvez o falecido e queridíssimo Tio Paulinho preferisse que seus filhos não fossem gays. Talvez os pais das Dulce preferissem que ela não se casasse com o Negão (Cláudio). Talvez, talvez, talvez...

Repito: “estrutural” é muita coisa! E ao mesmo tempo pode não ser nada. Dependerá sempre da ótica, ou melhor, dos valores, de quem vê.

O secretário especial de cultura Roberto Alvim, demitido pelo presidente Bolsonaro após a publicação de um vídeo francamente nazista (no conceito amplo, geral e irrestrito do termo), é um “antissemita estrutural”? Não creio. Mas afirmo, com todas as letras, que é, sim, um “nazista estrutural”. Se é que não deveríamos retirar o “estrutural” e adjetivar o canalha apenas como um nazista.

JUDEUS E O MUNDO

Alvim, como todo “bom” nazista, é um nacionalista extremado. Um psicopata que não admite pluralidade e liberdade. Um tirano energúmeno que se imagina capaz de definir “o certo e o errado”, e ainda determinar as diretrizes disso. Um tarado intelectual pronto para estuprar a verdade e impor, à força, suas mentiras.

Por que a comunidade judaica brasileira, então, se insurgiu de forma tão veemente? Por que se manifestou tão intensamente nas redes sociais e nos canais oficiais do governo, se não foi – sob minha ótica – diretamente a atingida pelo vídeo asqueroso?

Simples, meus caros. Porque dentre os preceitos mais sagrados do judaísmo; dentre os valores mais caros a um judeu, encontram-se sentimentos como empatia, solidariedade, fraternidade, respeito e amor à diversidade.

Não há um só país no mundo, onde exista uma comunidade judaica, em que os judeus não estejam inseridos nas regras, leis e costumes deste país. Não há uma única comunidade judaica, em qualquer país do mundo, onde esta não seja participativa e colaborativa.

Judeus são, por natureza – e talvez por experiência própria – incondicionalmente contrários a quaisquer tipos de opressão, segregação, seleção (física, cultural, étnica, religiosa ou o escambau). E quem vier falar aqui, sobre Gaza e os palestinos, aconselho a se informar corretamente ou ir se tratar na mesma clínica do tal Roberto Alvim (já foi internado o maluco?).

ENCERRO

Judeus não toleram nazistas! Pouco importa o alvo do nazismo da ocasião. Se contra negros, orientais, gays, ciganos... Até porque, um nazista será sempre um nazista.

Hoje, Alvim é contra as formas e formatos de Cultura que não gosta. Amanhã...


 

Ricardo Kertzman nasceu em Brasília, em abril de 1967. É blogueiro do Portal UAI e colunista do jornal Estado de Minas. Escreve sobre política e outros assuntos de interesse geral.

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