Após duas eleições em menos de um ano, a única democracia do Oriente Médio continua firme e forte, mas o impasse permanece. As eleições convocadas primeiramente para Abril com a saída do Ministro da Defesa Avigdor Lieberman e de seu partido Yisrael Beiteinu da coalizão governista de Benjamin Netanyahu, em protesto ao cessar fogo com o grupo terrorista Hamas, levou o país ao impasse. Netanyahu saiu vitorioso, mas sua coalizão de direita formava 60 dos 61 deputados necessários para formar o governo. Com a recusa de Liberman de entrar novamente na coalizão com Netanyahu e com os partidos religiosos, especialmente o partido haredi Shas, Netanyahu convocou novas eleições para setembro. Costurou alianças com o Kulanu, do Ministro das Finanças Moshe Kahlon, e com o partido libertário sionista Zehut, de Moshe Feiglin, ajudou a Ayelet Shaked a formar o Yamina, aliança entre partidos de direita, mas os resultados não suficientes para formar um governo.
Netanyahu cometeu erros, e não foram poucos (mas isso será assunto de um artigo posterior), que levaram a uma situação de impasse e que coloca o país a beira da possibilidade de uma terceira eleição.
Resultados
Os resultados em comparação a Abril, demonstraram uma queda dos dois partidos principais, Likud e Kahol Lavan, e uma subida dos demais partidos em especial Yisrael Beiteinu de Avigdor Lieberman e a Joint List dos árabes antissionistas.
Com 99% das urnas apuradas os resultados foram:
Kahol Lavan - 33 MKs (-2)
Likud - 31 MKs (-7)
Joint List - 13 MKs (+3)
Shas - 9 MKs (+1)
Yisrael Beiteinu - 8 MKs (+3)
United Torah Judaism - 8 MKs (-)
Yamina - 7 MKs (+1)
Labour-Gesher - 6 MKs (-)
Democratic Union - 5 MKs (+1)
Coalizão de Netanyahu - Likud, Shas, United Torah Judaism, Yamina - 55 MKs
Coalizão de Gantz - Kahol Lavan, Labour-Gesher, Democratic Union - 44 MKs
Netanyahu precisará de Lieberman para formar um novo governo e Gantz precisará de Lieberman e de árabes antissionistas para formar o seu.
Possibilidades de Governo
Likud (Netanyahu) + Yisrael Beiteinu (Liberman) + Partidos Religiosos e de Direita (Shas, UTJ, Yamina)
A melhor possibilidade de Netanyahu de permanência no cargo é um acordo com Lieberman e inclusão do Yisrael Beiteinu na coalizão governista. Para isso Lieberman precisará abdicar da pretensão de formar um governo secular, ou seja sem partidos religiosos.
Primeiro-Ministro: Benjamin Netanyahu
Número de Deputados: 64 MKs
Dificuldades: A coalizão necessita dos partidos religiosos que hoje detêm 17 deputados. Lieberman não aceita formar uma coalizão com partidos religiosos e defende obrigatoriedade de estudantes de Yeshiva (escolas de formação religiosa) servirem ao exercito,em especial os Haredi (grupo ortodoxo) hoje dispensados, algo que Shas e UTJ são fortemente contrários.
Estabilidade: Seria a coalizão mais estável. Os partidos são todos de centro-direita e direita e defendem praticamente as mesmas pautas.
Oposição: 56 MKs - Comandada por Benny Gantz (Kahol Lavan), partidos de esquerda (Democratic Union e Labor-Gesher) além do Joint List (árabes antissionistas).
Kahol Lavan (Gantz e Lapid) + Ysiarel Beiteinu (Lieberman) + Likud (sem Netanyahu)
Proposta defendida por Avigdor Lieberman (Yisrael Beiteinu). Um governo de coalizão nacional com Likud, Kahol Lavan e Yisrael Beiteinu, excluindo os partidos religiosos. Mas para isso o Likud deverá demitir o seu líder, Benjamin Netanyahu, e abrir mão da cadeira de Primeiro Ministro.
Primeiro-Ministro: Benny Gantz
Número de Deputados: 72 MKs
Dificuldades: A popularidade de Netanyahu entre as bases do Likud é muito grande, o que poderia levar a uma cisão e a criação, por Netanyahu, de um novo partido. Além disso, setores do Yamina, em especial o HaYamim HeHadash liderado pelo Ministro da Educação e Ministro da Diaspora, Naftali Bennett, são contra rifar Netanyahu e entrar em uma coalizão com Yair Lapid.
Estabilidade: Coalizão menos estável, principalmente pela diferença ideológica entre os partidos. Oposição: 48 MKs - Formada pelo Joint List, Shas, UTJ, Democratic Union e Labor-Gesher.
Likud (Netanyahu) + Hosen L'Yisrael (Gantz sem Lapid) + Yisrael Beiteinu (Lieberman) + Yamina (Shaked) + Shas (Deri) + UTJ (Litzman)
Existe a possibilidade de uma coalizão entre o Likud (Netanyahu), Hosen L'Yisrael (Gantz), Yisrael Beiteinu (Lieberman) e Yamina (Shaked). Uma modificação da proposta de Lieberman excluindo Lapid.
Primeiro-Ministro: Posto rotatório entre Netanyahu (Likud) e Gantz (Hosen L'Yisrael)
Número de Deputados: 77 MKs
Dificuldades: Esbarra na recusa de Lieberman de entrar em uma coalizão com partidos religiosos e da proposta da inclusão dos Haredi nas Forças Armadas, rejeitada pelo Shas e UTJ.
Estabilidade: Coalizão estável, principalmente pela semelhança ideológica entre os partidos.
Oposição: 43 MKs - Formada pelo Joint List, Yesh Atid (partido de Lapid) e os partidos de esquerda Labour-Gesher e Democratic Union.
Likud (Netanyahu) + Yamina (Shaked) + Partidos Religiosos (Shas e UTJ) + Partidos de Esquerda (Labour-Gesher (Peretz))
Netanyahu ofereceu essa possibilidade ao líder do Labour-Gesher Amir Peretz, relembrando a coalizão formada em 2009.
Primeiro-Ministro: Benjamin Netanyahu
Número de Deputados: 61 MKs
Dificuldades: Peretz não considera entrar em uma coalizão de Netanyahu. Diferenças ideológicas entre os partidos.
Estabilidade: Extremamente instável.Diferenças ideológicas entre os partidos poderia levar a impasses em determinados setores e a uma possível queda do governo.
Oposição: 59 MKs - Formada por Kahol Lavan, Joint List e Democratic Union.
Kahol Lavan (Gantz e Lapid) + Yisrael Beiteinu (Liberman) + Joint Lista (Árabes Antissionistas) + Partidos de Esquerda (Labour-Gesher e Democratic Union)
Única possibilidade para Kahol Lavan formar um governo sem o Likud, sob a liderança de Netanyahu. Para isso os árabes antissionistas deverão entrar em uma coalizão com sionistas.
Primeiro-Ministro: Benny Gantz
Número de Deputados: 65 MKs
Dificuldades: Benny Gantz era Chefe do Estado Maior, Avigdor Lieberman era Ministro da Defesa, áreas que os os árabes do Joint List foram mais críticos em especial por conta da relação com os Palestinos e terroristas do Hamas. Lieberman é resistente em formar uma coalizão com os árabes.
Estabilidade: Extremamente instável, com a possibilidade dos árabes saírem da coalizão na primeira discordância com relação as ações na palestina e o governo cair.
Oposição: 55 Mks - Formada pelo Likud, Yamina, UTJ e Shas.
Sem governo - Novas Eleições
A cada dia que passa, e com a indefinição e a impossibilidade de Netanyahu ou Gantz formarem seus governos ou um governo de coalizão nacional, a possibilidade de se convocar uma terceira eleição se torna maior. O Presidente de Israel Reuven Rivlin pretende evitar uma nova eleição o máximo possível, mas se ninguém formar um governo com o apoio mínimo de 61 MKs (Membro do Knesset) não restará opção. O Knesset seria novamente dissolvido e em Março/Abril de 2020 teríamos novas eleições e Netanyahu permaneceria interinamente no governo até uma nova decisão.
Fato é que, caso ninguém ceda, não haverá formação de um governo na atual configuração do Knesset e será necessário convocar novas eleições. O resultado desta eleição foi mais indecisão e o país sai ainda mais confuso do que quando entrou no processo eleitoral em Abril de 2019.
*Daniel Pimenta - Graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-Minas
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