O Brexit Party, partido liderado por Nigel Farage, foi fundado em 2019, com o objetivo de focar o debate nacional e europeu no Brexit, ou seja, na saída do Reino Unido do Bloco Europeu. Logo na sua primeira eleição para o Parlamento Europeu em 2019, o partido elegeu 27 dos 73 eurodeputados Britânicos, se tornando o partido mais votado no Reino Unido e o maior partido a ter representação no Parlamento Europeu. Ultrapassou os partidos mais tradicionais, como o Partido Trabalhista que elegeu apenas 10 eurodeputados e o Partido Conservador, da então Primeira Ministra Theresa May, que elegeu apenas 4 eurodeputados. Sua tática nas eleições europeias de 2019, foi lançar candidatos de renome, ex-tories, como Ann Widdercomb (ex ministra na administração Major).
Em junho de 2019, em pesquisas da YouGov, chegou a assumir a liderança para a Câmara dos Comuns, com 26% dos votos enquanto o Partido Trabalhista e os Liberais Democrata atingiram 20% cada um e o Partido Conservador 18%. As projeções de assentos com essa pesquisa dava ao Brexit Party o segundo maior partido, com 168 deputados, perdendo apenas para o Partido Conservador com 303. Essa projeção levaria ao Partido Trabalhista ao seu pior resultado desde 1931, quando elegeu apenas 51 deputados. O Brexit Party se tornaria, com essa projeção, um KingMaker, ou seja, um partido que seria necessário para que o Partido Conservador permanecesse no poder. O motivo dessa ascensão do Brexit Party nas pesquisas para a Câmara dos Comuns, se deu pela falta de liderança da então Primeira-Ministra Theresa May e com a obstrução do Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn com relação ao Brexit. Os britânicos, mesmo aqueles que votaram pela permanência na União Europeia, defendem que o referendo seja respeitado e o Brexit Party, sob a liderança de Nigel Farage, era o único partido, naquele momento, capaz de faze-lo. Ou seja, Theresa May como Primeira-Ministra e líder do Partido Conservador era o que levava ao Brexit Party os níveis de aprovação e de intensão de votos dessas pesquisas.
Com a renúncia de Theresa May, em maio de 2019 e a eleição de Boris Johnson como líder do Partido Conservador, o apoio ao Brexit Party caiu drasticamente, atingindo 2% na ultima pesquisa da Kantar. Enquanto isso o apoio ao partido Conservador liderado agora por Boris Johnson subiu instantaneamente chegando a 45% com uma distância para o segundo colocado, os Trabalhistas, de 18%. A previsão para as Eleições de 12 de dezembro é que o Brexit Party não eleja nenhum deputado, mas com possibilidade de eleger no máximo 16 deputados.
Com a convocação de eleições antecipadas para 12 de dezembro, Farage propôs a Boris Johnson um pacto eleitoral de não-agressão, onde não concorreriam nos mesmos distritos. Boris Johnson recusou categoricamente, e até então o Brexit Party concorreria em todos os distritos. Todavia, com a perspectiva de uma aliança entre os Trabalhistas, os Liberais Democratas, o SNP, o Plaid Cymur e os Verdes, com o objetivo de impedir o Brexit de acontecer, Farage decidiu retirar as candidaturas de mais de 300 distritos. Estes distritos são de maioria Conservadora e com candidatos do Brexit Party, esses votos se dividiriam, favorecendo os Trabalhistas e os Liberais Democratas. Farage declarou que estava "colocando o país na frente do partido."
Essa decisão foi vista com maus olhos dentro do partido, especialmente pelos candidatos que foram retirados da disputa, fazendo com que uma cisão surgisse e dividisse ainda mais os votos que iriam para o partido.
O destino de Partidos de Causa Única
O destino de todo Partido de Causa Única é ter sucesso por um determinado período e depois entrar no ostracismo, seja porque a causa foi atingida ou porque não existem perspectivas de que será alcançada. Para que o partido sobreviva, é necessário uma mudança completa em sua estrutura, abandono da causa única e/ou adoção de novas causas.
Um grande exemplo de um partido de causa única, que para não desaparecer precisou se adaptar foi a Lega. Surgiu como um partido que defendia a independência do Norte da Itália, e só lançava candidatos nessa região. Passou a defender apenas a autonomia da região e a lançar candidatos em outras regiões. Por fim, deixou a independência ou autonomia em segundo plano e passou a defender uma reforma da União Europeia ou a saída da Itália do bloco e lançar candidatos em todas as regiões da Itália. Com essa mudança teve um bom desempenho nas eleições de 2018 e formou um governo de coalizão junto com o M5S. Com o excelente resultado nas europeias de 2019, o líder da Lega, Matteo Salvini, se demitiu do cargo de Vice-Primeiro Ministro e Ministro do Interior com o objetivo de derrubar o governo e chamar eleições antecipadas. As pesquisas dão à Lega uma média de 35% - 38%, com uma vantagem para o segundo colocado, o PD, de cerca de 15%. O que era um pequeno partido independentista, se tornou um dos maiores partidos italianos com a possibilidade de liderar o próximo governo italiano.
O Brexit Party, fez certo em se retirar da disputa nos distritos Conservadores, visto que o seu grande objetivo é o Brexit e Boris Johnson deverá entregar o Brexit no dia 31 de Janeiro de 2020. Mas o custo político disso para o partido será alto e talvez irreversível. Para que o Brexit Party permaneça no mainstream político britânico será necessário a adoção de novas causas e mudar sua identidade. Com o fim do processo do Brexit, novos temas surgirão e os partidos que conseguirem usar o capital político e o momentum irão lograr exito nas eleições nacionais. Com uma possível queda de Jeremy Corbyn, após o resultado das eleições de 12 de dezembro, a rejeição ao partido Trabalhista tenderá a cair, e os antigos eleitores trabalhistas que hoje votam em outros partidos, voltarão a base do partido, tornando a situação dos Conservadores e do Brexit Party menos favorável.
*Daniel Pimenta - Graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-Minas
Especialista em Política Eleitoral com foco na Israelense, Britânica, Americana e Portuguesa.
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