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Lá vem uma Onda Azul? - Não é bem assim!

Foto do escritor: Daniel PimentaDaniel Pimenta

Em 2018, quando os democratas conseguiram o controle da Câmara dos Representantes, Donald Trump e os republicanos sabiam que passariam por alguma dificuldade para aprovar projetos importantes, em especial fazer passar o Orçamento de Estado e impedir o fechamento do governo no final do ano fiscal. Muito disso, dada a proximidade das eleições presidenciais americana. O papel da oposição, na realpolitik, não é fazer uma "oposição consciente pensando no melhor do país, acima de disputas partidárias". Política não é um conto de fadas, onde os líderes partidários e de grupos de interesse, estão sempre em busca do melhor para todos, até porque esse conceito é extremamente relativo. Especialmente em um sistema bipartidário, como o americano, quando um partido vai mal e faz escolhas erradas, o outro partido surge como alternativa.

Foi exatamente o que aconteceu. Com a vitória em 2018, a força dos Democratas nas duas casas aumentou. Diversos projetos provenientes ou patrocinados pela Casa Branca eram prontamente classificados como sem relevância pela Câmara dos Representantes, agora controlada pelos democratas e capitaneada por Nancy Pelosi (CA-12). Já no Senado, a minoria democrata organizada pelo senador Chuck Schumer (NY), usou da tática do filibuster (obstrução) para exercer sua influência. Dentre as vitórias dos democratas nestes dois últimos anos, estão o fechamento do governo (entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019), a aprovação do Impeachment de Trump, mas que foi rejeitado pelo senado em Janeiro de 2020 e o projeto de resposta ao COVID-19 do Congresso, apelidado de CARES Act.

Que os democratas manteriam o controle da Câmara dos Representantes, todos já sabiam. Até mesmo os republicanos já consideram a luta pela Câmara perdida. A batalha real será pelo Senado, que é composto por 100 senadores (2 para cada estado) com um mandato de 6 anos. A cada dois anos, enquanto na Câmara dos Representantes todos os deputados disputam as eleições, no senado apenas 1/3 disputa as eleições.

Em 2020, 35 cadeiras estão em jogo, sendo 12 democratas e 23 republicanos. Destes, apenas 4 senadores, Tom Udall (D) do New Mexico, Pat Roberts (R) do Kansas, Lamar Alexander (R) do Tenneessee e o Senador Mike Enzi (R) de Wyoming, não disputarão a reeleição.

As médias de pesquisas apontam uma vitória apertada para os democratas, obtendo o controle do Senado e mantendo a Câmara dos Representantes.

Em 9 estados (- 1 a desde a última previsão em Julho) os Republicanos não precisam de se preocupar e investir muito dinheiro para manter suas cadeiras: Idaho, Wyoming, South Dakota, Nebraska, Oklahoma, Arkansas, Louisiana, Mississippi, Tenneessee e West Virginia.

Enquanto, em 7 estados, a vitória é dada como certa para os democratas: Oregon, Illinois, Virginia, Delaware, New Jersey, Rhode Island e Massachussetts.

A batalha acontecerá em 19 Estados, e a média das pesquisas de Agosto a Outubro dão uma pequena vantagem para o democratas controlarem o Senado.


Com as médias de pesquisas até Outubro, a situação do Senado ficaria dessa forma:

Democratas: 52 senadores

Republicanos: 48 senadores


ALASKA (LEAN REPUBLICAN)

Al Gross (D) x Dan Sullivan (R)

A política do Alaska tende a fugir um pouco do bipartidarismo nacional. Enquanto os republicanos detém uma boa base de apoio, os democratas quase não existem. O maior rival dos Republicanos são os Independentes. Quando os republicanos resolveram, nas eleições de 2010, retirar o apoio da senadora Lisa Murkowski e indicar Joe Miller, ligado a Sarah Pallin, os eleitores independentes resolveram reconduzir Murkowski. O resultado foi apertado, Murkowski ficou com 101.000 votos (39.5%) enquanto Joe Miller com quase 91,000 votos (35.5%), em terceiro lugar ficou o democrata Scott McAdams com pouco mais de 60,000 (23.5%).

Nas eleições de 2020, o atual senador Dan Sullivan enfrenta uma frente unida de independentes, libertários e democratas com Al Gross.

Gross é cirurgião ortopedista e pescador comercial. É filho de Avrum Gross, ex-Procurador Geral do Alaska entre 1974 e 1980.

A aprovação de Dan Sullivan é de 43%, sendo que sua base de apoio se concentra majoritariamente em eleitores republicanos.


Na média de pesquisas de Agosto até Outubro, Sullivan tem uma pequena vantagem de 2 pontos:

Dan Sullivan (R) - 46%

Al Gross (D) - 44%


Desta forma podemos considerar, que Dan Sullivan ainda é o favorito para vencer, apesar da pequena liderança sobre Gross. Desde Julho até agora, a corrida no Alaska ficou mais competitiva. Em julho a classificação da corrida era Likely e agora em Outubro foi rebaixada em um patamar para Lean.


ALABAMA (SAFE REPUBLICAN)

Doug Jones (D) x Tommy Tuberville (R)

A corrida em que os Republicanos têm mais chances de derrotar o senador democrata incumbente. A vitória de Jones em 2017 foi surpreendente, mas tinha ficado claro que era um momentum passageiro. Jones enfrenta Tommy Tuberville, treinador do time de futebol americano da Universidade Auburn.

A aprovação de Doug Jones é de 41% e supera a desaprovação, mas mesmo assim isso pode não ser suficiente para conseguir um novo mandato.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Tuberville lidera com mais de 15 pontos:

Tommy Tuberville (R): 53%

Doug Jones (D): 38%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outubro subiu em dois patamares para Safe.


ARIZONA (LIKELY DEMOCRAT)

Martha McSally (R) x Mark Kelly (D)

A eleição especial para escolher quem vai terminar o mandato do falecido Senador John McCain promete ser interessante. Com o falecimento de John McCain, o governador do Arizona, Doug Ducey, nomeou Jon Kyl como senador até as Eleições especiais. Com a renúncia de Kyl, o Ducey nomeou Martha McSally para ocupar a vaga. McSally já havia perdido a cadeira de Jeff Flake em 2018 para a democrata Kyrsten Sinema.

McSally é uma das senadoras mais impopulares, com uma desaprovação de 40%. Muitos republicanos do Estado, especialmente a família McCain se colocaram contra sua candidatura. Enquanto isso Mark Kelly, ex astronauta, conseguiu reunir em torno de sua candidatura democratas, independentes e republicanos.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Kelly lidera com mais de 7 pontos:

Mark Kelly (D): 49.7%

Martha McSally (R): 42.5%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outubro subiu em um patamar para Likely.


COLORADO (LIKELY DEMOCRAT)

Cory Gardner (R) x John Hickenlooper (D)

Outra disputa em que os republicanos correm o risco de perder uma cadeira. O atual senador Cory Garner busca um segundo mandato, em um estado que se tornou democrata. Seu concorrente é o ex-Governador democrata, John Hickenlooper. Assim como Martha McSally, Gardner é um dos senadores com pior avaliação, sua taxa de desaprovação é de 40%.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Hickenlooper lidera com mais de 8 pontos:

John Hickenlooper (D): 48.5%

Corey Gardner (R): 40.5%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outubro subiu em um patamar para Likely.


GEORGIA (TILT REPUBLICAN)

David Perdue (R) x Jon Ossoff (D)

O atual senador David Perdue tenta sua reeleição, mas enfrenta a ascensão dos democratas no Estado. Desde 2018, o número de eleitores democratas e de independentes que votam em democratas aumentou. Em um Estado majoritariamente republicano, essa ascensão causou preocupação no partido de Donald Trump.

Ossoff é jornalista investigativo e foi, sem sucesso candidato a deputado pelo 6º Distrito.

Perdue detém uma alta aprovação de 49% que se manteve durante seu mandato.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Perdue e Ossoff estão empatados

David Perdue (R): 45.8%

Jon Ossoff (D): 45.8%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outubro caiu em um patamar para Tilt.


ELEIÇÃO ESPECIAL GEORGIA (TILT DEMOCRAT)

Com a renúncia do Senador Johnny Isakson no final de 2019, o governador Brian Kemp nomeou Kelly Loeffler como senadora até as eleições especiais em 2020/2021.

Nas eleições especiais da Georgia, não existem primárias. Os candidatos de todos os partidos concorrem juntos, e se caso nenhum deles atinja 50% uma nova votação será feita no dia 5 de janeiro, com os dois candidatos mais votados, independente do partido.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Warnock (D) lidera com 6.8 pontos.

Raphael Warnock (D): 31.8%

Kelly Loeffler (R): 25%

Doug Collins (R): 20.6%

Matt Lieberman (D): 6.6%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outubro caiu em um patamar para Tilt.


IOWA (LEAN DEMOCRAT)

Theresa Greenfield (D) x Joni Ernst (R)

Disputa extremamente acirrada. Ernst é senadora desde 2015. Tem uma taxa de desaprovação bem alta, de 42%. Greenfield foi a candidata democrata a deputada pelo 3º Distrito de Iowa.

Com a nomeação de Amy Coney Barrett para substituir Ruth Bader Ginsburg, senadores republicanos que buscam a reeleição começaram a cair nas pesquisas. Ernst é membro do Comitê de Justiça do Senado, que é responsável por sabatinar os nomeados para a Suprema Corte e sua atuação na sabatina vai refletir nas urnas em novembro.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Greenfield (D) lidera com quase 3 pontos.

Theresa Greenfield (D): 47%

Joni Ernst (R): 44,2%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outubro se manteve em Lean.


KANSAS (LEAN REPUBLICAN)

Roger Marshall (R) x Barbara Bollier (D)

No Kansas a situação ainda é favorável para os republicanos, mas é necessário acender um alerta. O atual senador Pat Roberts resolveu se aposentar deixando a disputa aberta em um estado que os democratas começaram a ter sucesso. Em 2018, a democrata Laura Kelly derrotou o republicano Kris Kobach nas eleições para o governo do Estado.

O candidato republicano é o atual deputado pelo 1º Distrito do Kansas, Roger Marshall. A candidata democrata é a Barbara Bollier, que até 2018 era filiada ao partido republicano.

Os fatores que podem levar ao sucesso dos democratas são sem dúvidas a disputa ser aberta e uma ex-republicana como candidata.

Nas últimas duas pesquisas Bollier (D) abriu uma vantagem de 4 pontos sobre Marshall (R)

Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Marshall (R) lidera com 2.1 pontos.

Roger Marshall (R):44.0 %

Barbara Bollier (D): 41.9%


Em julho a classificação da corrida era Lean Democrat e agora em Outubro se tornou em Lean Republican.


MAINE (LIKELY DEMOCRAT)

Sarah Giddeon (D) x Susan Collins (R)

Susan Collins foi eleita pela primeira vez como Senadora do Estado do Maine, em 1996 com a aposentadoria do então senador Willian Cohen. Em 2008 foi a senadora mais votada na história do Maine, atingindo quase 500.000 de votos, em um estado que a população mal passa dos 1,3 milhão de habitantes. Collins se tornou uma das senadoras mais desaprovadas, com 51% de desaprovação. Para tentar se manter competitiva durante a campanha, Collins se colocou contrária a nomeação de Amy Coney Barrett para a Suprema Corte, defendendo que a nomeação deve ser feita após as eleições. Já Sarah Giddeon é a presidente da Câmara dos Representantes do Maine, onde os democratas mantêm uma confortável maioria.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Giddeon (D) lidera com 5.2 pontos.

Sarah Giddeon (D): 46.7 %

Susan Collins (R): 41.5%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outubro se tornou em Likely

MONTANA (LEAN REPUBLICAN)

Quando o governador de Montana, Steve Bullock anunciou que seria candidato ao senado pelo partido democrata, desafiando o atual senador republicano Steve Daines as pesquisas mostraram um bom desempenho. Afinal, Bullock era um governador bem avaliado, com 53% de aprovação, em um Estado republicano.

Montana apesar de ser um estado extremamente republicano com relação a corrida presidencial, 42 das 100 cadeiras da Câmara dos Representantes do estado são democratas e desde 2006 o partido mantém um dos senadores.

Daines tem uma aprovação razoável de 47% o que pode ajudar na sua reeleição.

As pesquisas não mostram um crescimento/declínio regular de nenhum dos candidatos.

Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Daines (R) lidera com 2.4 pontos.

Steve Daines (R): 48.4 %

Steve Bullock (D): 46.0%


Em julho a classificação da corrida era Lean Democrat e agora em Outubro se tornou em Lean Republican.


NORTH CAROLINA (LIKELY DEMOCRAT)

Thom Tillis (R) x Cal Cunningham (D)

Outro caso de senador republicano em perigo. Thom Tillis é senador pelo estado de North Carolina desde 2015. A sua desaprovação é 37% o que supera em 3 pontos a sua aprovação de 34%. Tillis é membro do Comitê de Justiça do Senado e dependendo de sua postura na sabatina de Amy Coney Barrett suas chances reeleição em Novembro podem ser nulas.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Cunningham (D) lidera com quase 6 pontos.

Cal Cunningham (D): 48.0 %

Thom Tillis (R): 42.3%


Em julho a classificação da corrida era Lean e agora em Outuro se tornou em Likely.


SOUTH CAROLINA (TILT REPUBLICAN)

Jamie Harrison (D) x Lindsay Graham (R)

Graham é um dos republicanos mais proeminentes no Senado. Senador por South Carolina desde 2003, quando foi eleito para ocupar a vaga deixada pelo então senador segregacionista Strom Thurmond. Graham é considerado um senador que têm bom diálogo com todas as alas do partido democrata e republicano. Seu perfil conciliador fez com que fosse essencial diversos projetos bipartidários como a Reforma da Política Imigratória nas administrações Obama e Trump. Como membro do Comitê de Justiça, foi o único republicano a favoravelmente às nomeações de Elana Kegan e Sonia Sotomayor (ambas nomeadas por Barack Obama) para a Suprema Corte. Com a saída de Chuck Grassey (R-IA) da presidência do Comitê, Graham foi eleito para o substituir. Enfrenta nestas eleições seu maior desafio. Se até Agosto, sua reeleição era dada como certa, hoje a disputa ficou acirrada, principalmente por conta do seu apoio à nomeação e o início do processo de sabatina de Amy Coney Barrett no Comitê de Justiça. O grande problema está na sua mudança de posição, de que em ano de eleição presidencial os procedimentos para a sabatina e aprovação da nomeação de um novo membro da Suprema Corte deve esperar o resultado das eleições.

Após a decisão de Graham de pautar a nomeação de Barrett no Comitê de Justiça, as pesquisas mostraram uma significativa perda de apoio à sua reeleição.

Enquanto isso o candidato democrata, Jamie Harrison disparou nas pesquisas e começou a receber um alto número de doações. Harrison conseguiu arrecadar $57 milhões em doações somente no ultimo bimestre, batendo em quase $20 milhões o recorde de doações de campanha no mesmo período.


Na média das pesquisas de Agosto a Outubro, Graham (R) lidera por 0.7 pontos.

Lindsay Graham (R): 45.9 %

Jamie Harrison (D): 45.2%


Em julho a classificação da corrida era Safe e agora em Outuro se tornou em Tilt.


A probabilidade de que os democratas controlem ambas as casas do Congresso Americano são altas, mas está longe de fõrmar uma maioria qualificada, com mais de 60 senadores e 300 deputados.

Os democratas estão se saindo bem, mas não parece ser o caso de uma Onda Azul.


 

Daniel Pimenta, graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), especialista em política eleitoral com foco na política Israelense, Britânica, Americana e Portuguesa.

 

Referências


BEKIEMPIS, Victoria - Jaime Harrison sets Senate fundraising record in race against Lindsey Graham. Consultado em 10 out 2020 - Disponível em < https://www.theguardian.com/us-news/2020/oct/11/jaime-harrison-shatters-senate-fundraising-record-race-against-lindsey-graham >

MORNING CONSULT - Senators Rankings. <https://morningconsult.com/senator-rankings/>

 

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