Donald Trump, era até 2019, o favorito nas Eleições Presidenciais Americanas de 2020. O índice de desemprego atingiu o menor nível na história dos Estados Unidos, com uma média de 3%, a economia crescia a bons níveis, a política externa marcada por uma redução dos conflitos, que mesmo tom duro trouxe uma tentativa de conciliação com a Coreia do Norte. Trump foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a pisar em território norte-coreano. Além disso, Trump detinha, o que o Professor Adriano Gianturco, do IBMEC-BH, explica em sua obra, A Ciência da Política - Uma Introdução, como vantagem do incumbente. Segundo Gianturco, "quando o incumbente se recandidata, tende a ganhar." (GIANTURCO, 2018)
Desde o início do século XX, o ocupante da cadeira presidencial que se recandidatou, na maioria das vezes venceu. Apenas em 4 ocasiões, candidatos-presidentes não obtiveram êxito em ganhar um segundo mandato; Taft (1919), Hoover (1932), Carter (1980) e Bush (1992).
A pandemia do COVID-19, que atingiu o mundo, atingiu em cheio a administração Trump e suas chances de reeleição em 2020. Com a decisão de lockdown e/ou quarentena proveniente dos governos estaduais, a taxa de desemprego disparou, subindo em Abril deste ano, de 3.5% para 14.7%, segundo dados do governo americano. A taxa de aprovação de Trump, que já era baixa, foi reduzida a um novo patamar dentro da administração. O PIB dos Estados Unidos retraiu 5% no 1º Trimestre de 2020 e as previsões para o 2º Trimestre são de uma forte retração. Em um ano eleitoral, onde o Presidente irá tentar um novo mandato, isso é uma má notícia. Para um candidato com foco na agenda econômica e nos resultados de sua administração, é uma péssima notícia. Com a economia em um péssimo ano e o desemprego galopando, a vantagem que Trump detinha no Cinturão da Ferrugem (Rust Belt) pode desaparecer.
Além de fatores econômicos exitem outros que podem influenciar nas eleições de 2020 e na busca de Donald Trump por mais 4 anos na Casa Branca.
MUDANÇAS DEMOGRÁFICAS
Esse fator é algo que vem preocupando os republicanos desde 2018. Nas eleições de meio de mandato em novembro de 2018, um grande número de eleitores democratas surgiu em estados fortemente republicanos, os famosos Red States.
No Texas, o experiente senador Ted Cruz, candidato nas primárias presidenciais republicanas de 2016, teve dificuldade de conseguir mais um mandato. O deputado democrata Beto O'Rourke, pelo 16º Distrito do Texas (El Paso), desafiou Cruz e conseguiu uma performasse histórica para os Democratas, conseguindo mais de 4 milhões de votos. O resultado final foi 50% para Ted Cruz e 48% para Beto O'Rourke.
Na Georgia, outro estado do Cinturão do Sol (Sun Belt), nas eleições para o Governo do Estado, o candidato republicano Brian Kamp tinha certeza de sua vitória. Kamp era o Secretário de Estado da Georgia e tinha o apoio de todos os republicanos, inclusive do Presidente Donald Trump e do vice-presidente Mike Pence. Todavia, a eleição foi tudo, menos fácil. Stacey Abrams, senadora estadual e líder da oposição surgiu com uma força nunca vista. Abrams incomodou Kamp, mas no final os republicanos conseguiram manter o Estado. A margem entre Kamp e Abrams, de apenas 2%, mostrou que o caso do Texas não era isolado.
Por todo o país, republicanos experientes ou em Estados e Distritos republicanos, estavam perdendo força. Isso se deu por uma estagnação no número de eleitores republicanos e um grande aumento no número eleitores registrados como democratas. Podemos citar como exemplos de sucesso, as eleições para o senado no Arizona e Alabama, onde os democratas tiveram sucesso.
A revolução progressista (Liberal Revolution), promovida por Bernie Sanders, Elizabeth Warren, Alexandra Ocasio-Cortez (AOC) e o restante da ala socialista do Partido Democrata, levou uma grande número de jovens a se registrarem como eleitores. O mote era de que o seu voto era importante e que ajudaria a derrotar os republicanos em 2018 e Donald Trump em 2020. Deu certo, houve um aumento no número de novos eleitores registrados, em especial democratas e independentes.
O número de simpatizantes também cresceu desde 2016.
Em julho de 2016 - Democratas 43% e Republicanos 43%.
Em julho de 2017 - Democratas 48% e Republicanos 40%.
Em julho de 2018 - Democratas 44% e Republicanos 40%.
Em julho de 2019 - Democratas 46% e Republicanos 41%.
Em junho de 2020 - Democratas 50% e Republicanos 38%
Além de novos eleitores millennials e da geração Z, houve um grande aumento de eleitores de minorias, como latinos e negros, que tendem a votar em candidatos democratas. Campanhas feitas por Democratas e por movimentos como Black Lives Matter (BLM) que buscam o registro de eleitores negros, tiveram sucesso, em especial, após a brutal de George Floyd em 25 de Maio de 2020, em Minneapolis, por violência policial.
O Êxodo Californiano
A saída em massa de cidadãos californianos para estados vizinhos como Nevada e Arizona, além de outros estados da região, como Colorado, New Mexico, Utah, Idaho, Montana e Texas. De 2003 a 2013 cerca de 5 milhões de pessoas saíram da Califórnia, em comparação com 3,5 milhões que mudaram para o Estado. Somente de 2018 para 2019, quase 700 mil pessoas saíram do estado, com o destino sendo majoritariamente o Texas (87 mil), Arizona (69 mil), Washington (55 mil), Nevada (51 mil) e Oregon (44 mil). Não me aprofundarei nos motivos que levam estas pessoas a saírem da California, mas dentre os motivos mais frequentes estão: o alto custo de vida, altos impostos, o preço do mercado imobiliário e a falta de empregos.
O êxodo Californiano inundou diversos estados com uma população com baixa e média escolaridade, baixa e média renda e majoritariamente democrata. Apesar de New Mexico e Colorado serem considerados Blue States, eu os considero Light Blue States, dado o alto número de eleitores republicanos e um grande número republicanos em cargos eletivos. Já Arizona, deixou de ser um estado fortemente republicano para se tornar um swing state, com tendências democratas. O Texas, ainda é um estado republicano, mas pode chegar em 2024 na mesma situação que o Arizona está hoje, assim como Utah e Montana.
Uma derrota de Trump no Arizona e/ou Texas pode ser devastadora para os republicanos nos anos posteriores.
(DES)APROVAÇÃO
Apesar da desaprovação não ser considerado um fator de muita relevância em uma eleição de sistema bipartidário, em especial nos Estados Unidos, é algo que precisa ser analisado. Em julho de 2020, aprovação de Donald Trump chegou a 40%. Pode até parecer alta para os níveis brasileiros, principalmente após uma sequência de presidentes impopulares, como Dilma, Temer e Bolsonaro, mas é extremamente baixa. Em comparação com outros presidentes, nos 4 primeiros anos, a aprovação de Trump sempre foi mais baixa.
Obama (2009-2017) - 65% x 45% (Mais alta) - 48% x 40% (Julho pré-reeleição)
Bush (2001 - 2009) - 89% x 45% (Mais alta) - 47% x 40% (Julho pré-reeleição)
Clinton (1993-2001) - 61% x 45% (Mais alta) - 60% x 40% (Julho pré-reeleição)
W. H. Bush (1989-1993) - 86% x 45% (Mais alta) - 36% x 40% (Julho pré-reeleição)
Reagan (1981-1989) - 68% x 45% (Mais alta) - 55% x 40% (Julho pré-releição)
Carter (1977-1981) - 75% x 45% (Mais alta) - 33% x 40% (Julho pré-reeleição)
Se formos analisar, a taxa de aprovação de Donald Trump, em julho pré-reeleição é bem parecida com de outros presidentes que buscavam a reeleição, mas perderam (Carter e W.H. Bush). Isso deve ascender um alerta na campanha de Donald Trump.
Esse pode ser um fator para se analisar no pós-eleição: Qual patamar mínimo de aprovação um incumbente precisa para conseguir ser competitivo em uma reeleição?
Daniel Pimenta, graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), especialista em política eleitoral com foco na política Israelense, Britânica, Americana e Portuguesa.
REFERÊNCIAS
GIANTURCO, Adriano. A Ciência da Política - Uma Introdução. Rio de Janeiro: GEN, 2018. 328 p.
Bureau of Labour Statistics. The employment situation - June 2020. US. Departamento of Labour, 02 julho 2020. Disponível em: <https://www.bls.gov/news.release/pdf/empsit.pdf>. Acesso em: 15 jul 2020.
Gallup. Party Affiliation. Disponível em: <https://news.gallup.com/poll/15370/party-affiliation.aspx>. Acesso em: 16 jul 2020.
LANSNER, Jonathan. 691,145 Californians left last year. What states did they go to?. The Mercury News, 04 Novembro 2019. Disponível em: <https://www.mercurynews.com/2019/11/04/691145-californians-left-last-year-what-state-did-they-go-to/>. Acesso em: 16 jul 2020.
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