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Por que a escolha do Vice Presidente é tão importante nas Eleições Americanas?

Foto do escritor: Daniel PimentaDaniel Pimenta

No 2º texto da Série "Terça nas Eleições Americanas" tratei sobre as potenciais candidatas a vice presidente na chapa de Joe Biden e qual seria a sua ajuda para leva-lo à Casa Branca.

Na escolha do candidato a Vice-Presidente, em especial nos Estados Unidos, uma série de fatores devem ser levadas em consideração. Apesar da popularidade ser um dos mais relevantes para a escolha de um companheiro de chapa, a ideologia, raça, gênero e estado de origem também são levadas em conta. Um candidato a vice deve, em tese, balancear e suprir as deficiências do seu companheiro de chapa. Nos Estados Unidos, os grupos étnicos detém muita força e votam da mesma forma, especialmente em uma mesma região. Na busca destes votos, os candidatos tendem a buscar alguém que tem boa passagem e popularidade nestes grupos. Isso significa fazer escolhas.

Por exemplo, se um candidato a presidência que tem boa aprovação entre brancos e latinos, mas entre os negros não vai bem, a campanha tende a buscar um companheiro de chapa que possa trazer os votos negros.

A escolha do companheiro de chapa pode levar um candidato a Casa Branca, mas também pode fazer com que a carreira do vice decole e crie uma dinastia. Sem a indicação em 1980, era improvável que George W. H. Bush se tornasse presidente em 1989, além de criar uma dinastia que fez de seus filhos George W. Bush, presidente de 2001 a 2008 e Jeb Bush, governador da Florida de 1999 a 2007.Antes de ser vice-presidente, George W. H Bush só havia sido eleito para o cargo de deputado, representando o 7º Distrito do Texas (Houston), além de outros cargos não-eletivos mas de relevância, como embaixador dos Estados Unidos na ONU e Diretor da CIA.

Para 2020, a atenção se volta para os democratas. Donald Trump, permanecerá com seu vice, Mike Pence, que o levou a vitória, ajudando a vencer no Cinturão da Ferrugem. Obama em 2008, havia vencido em todos os estados dessa região, inclusive em Indiana, que hoje, por causa de Pence se tornou extremamente republicano. No caso de Biden, fatores como sua idade avançada, o surgimento de novos Swing States, e movimentos como Black Lives Matter (BLM) irão fazer a diferença na escolha de sua companheira de chapa. Pudemos perceber desde momento em que Joe Biden, no debate das primárias na CNN, anunciou que seu candidato a vice seria uma mulher. A escolha de uma mulher para compor uma chapa presidencial é extremamente rara.

Tradicionalmente escolha do candidato a vice presidente normalmente acontece por três razões:


1 - Balanceamento

A busca pelo balanceamento tende a acontecer para trazer mais votos para a chapa ou contornar a inabilidade do candidato a presidente de trazer determinados tipos de votos.

Em 1980, o ex-governador da Califórnia e ator, Ronald Reagan, precisava balancear sua inexperiência política a nível federal. Os membros do partido queriam que Reagan escolhesse o ex-Presidente Gerald Ford como seu companheiro de chapa, trazendo sua experiência em Washington para dentro da campanha. Reagan, um conservador, optou por fazer o balanceamento ideológico e escolheu George W. H. Bush que era um republicano moderado, o que tranquilizou o partido e a base republicana de que a administração Reagan/Bush não seria levada para a extrema-direita.

Em 2008, o republicano John McCain, considerou escolher o democrata Joe Lieberman como seu candidato a vice, fazendo um balanceamento para o centro, em busca do eleitor mediano. McCain, um republicano moderado do Arizona, e Lieberman, que havia sido candidato a vice de Al Gore em 2000, também um moderado de Connecticut. A tese de que McCain seria o presidente para todos, não só para republicanos, poderia trazer os votos que foram decisivos para Obama vencer. Mas o partido republicano fez pressão para que isso não acontecesse, e McCain escolheu a então governadora do Alaska, Sarah Palin como sua candidata a vice. Palin fazia parte da ala mais da ala mais conservadora, o Tea Party. O balanceamento era claramente ideológico, buscavam votos desde o democrata moderado até o republicano mais redneck.

Com a promessa de escolha de uma candidata a vice presidente mulher, Biden busca fazer o balanceamento de gênero, como aconteceu em 1984 na chapa Mondale/Ferraro. Mas pode precisar de fazer, além do balanceamento de gênero, o ideológico. O movimento trazido por Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Alexandra Ocacio-Cortez, levando o partido mais para esquerda, fez com que a base jovem do partido rejeitasse Joe Biden e candidatos mais moderados. A inclusão de Warren, na chapa de Biden, poderia trazer esses votos de Millennials radicais, que na atual situação, podem ficar em casa no dia da eleição.

Outro balanceamento que Biden precisa fazer, é o racial. Com a explosão dos protestos do Black Lifes Matters (BLM), a pressão para a escolha de uma candidata negra, para representar os eleitores que se sentem descriminados se tornou muito forte. Para além disso, o voto negro, especialmente em South Carolina foi desfibrilador na campanha de Joe Biden em Fevereiro. Sem o maciço apoio negro em South Carolina, a campanha de Biden estava fadada ao fracasso. Hoje, a melhor opção para Biden, neste tipo de balanceamento é sem dúvidas a Senadora pela California Kamala Harris.


2 - Geografia

Como já expliquei em artigos anteriores, o mais importante é vencer em nos Estados, por causa do Colégio Eleitoral. O candidato a presidente pode escolher um companheiro de chapa que consiga garantir um ou alguns estados, especialmente nos swing states. A política nos Estados Unidos é, em especial nos estados menos cosmopolitas, extremamente bairrista, e normalmente a população tende a votar em um candidato que seja de seu estado.

Quando John F. Kennedy, senador por Massachusetts, foi nomeado como candidato democrata, escolheu Lyndon B. Johnson, senador pelo Texas como seu candidato a vice. Naquele tempo o Texas era de extrema importância para os democratas conseguirem vencer a corrida presidencial. Kennedy e Johnson, garantiram os 24 delegados do Texas por uma pequena margem (> 5%) e derrotaram o candidato republicano, então vice-presidente Richard Nixon, da California.

Em 1992, o então governador do Arkansas, Bill Clinton rejeitou a estratégia de balanceamento, um candidato do Sul (Clinton) com um vice do norte, e escolheu o senador pelo estado do Tennessee, Al Gore, como seu candidato a vice-presidente. Apesar de serem de estados vizinhos, a chapa de democratas sulistas se mostrou extremamente eficaz. Clinton/Gore criaram um muro democrata na região central dos Estados Unidos composto por Louisiana, Arkansas, Tennessee, Kentucky, West Virginia, Missouri, Iowa e Minnesota, apesar da candidatura a reeleição de George W. H. Bush e do independente Ross Perot.

Desde o início da era bipartidária, em 1892, o vencedor ganhou no estado natal de seu Vice-Presidente 87% das vezes. Isso significa que apenas 6 candidatos, nos últimos 192 anos conseguiram vencer a corrida presidencial sem vencer no estado natal de seu vice-presidente.

Para Joe Biden, a região mais importante para garantir sua vitória é o Cinturão da Ferrugem, onde os democratas têm um forte apoiamento, mas que Donald Trump, em 2016, conseguiu superar. Trump venceu por pequenas margens na região, fazendo com que a região seja extremamente volátil. Dessa forma, surge a atual governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, e a senadora por Minnesota Amy Klobuchar, como fortes candidatas. A experiência de ambas, e a popularidade na região, fortalece a campanha de Biden.


3 - Experiência

Um dos fatores que levam um candidato a escolher seu companheiro de chapa, é a sua experiência. Um vice-presidente com uma bagagem política grande, tranquiliza os eleitores, de que na possibilidade do Presidente ficar inabilitado de permanecer no cargo alguém competente irá assumir. Os eleitores pensam na possibilidade de que o presidente, durante o mandato pode morrer. Isso aconteceu em 1963, quando John F. Kennedy foi assassinado e seu vice Lyndon B. Johnson teve que assumir a presidência.

Para Joe Biden isso é ainda mais relevante dada sua idade avançada. Biden terá 77 anos no dia da eleição e, caso vença, 78 quando fizer o juramento na sacada do Capitólio em 2021. Biden será a pessoa mais idosa a se tornar presidente na história dos Estados Unidos. Isso pode fazer com que Biden decida não concorrer a um segundo mandato, fazendo com que sua vice-presidente se torne a candidata natural do partido democrata nas eleições de 2024.


Joe Biden deve escolher sua companheira de chapa até a convenção do partido Democrata, que foi adiada para Agosto por consequência do COVID-19. Independente de quem seja a candidata a vice, projeção da sua imagem a nível nacional será necessária, principalmente com a campanha acontecendo em um formato completamente diferente, sem os típicos showmícios característicos do partido democrata.

 

Daniel Pimenta, graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), especialista em política eleitoral com foco na política Israelense, Britânica, Americana e Portuguesa.

 

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