Daniel Pimenta*
No dia 9 de Junho escrevi um artigo listando as melhores candidatas para compor a chapa de Joe Biden e como elas o ajudariam a chegar à Casa Branca. Kamala Harris estava lá, como uma das candidatas que mais ajudaria Biden na disputa contra o atual presidente Donald J. Trump. A negociação na campanha de Biden não foi fácil. Nomes vieram, foram e voltaram ao longo desses meses, mas Kamala Harris jamais saiu da lista tríplice. No início a escolha mais óbvia seria alguém do Rust Belt (Cinturão da Ferrugem), como a Senadora por Minnesota Amy Klobuchar ou a governadora do Michigan Gretchen Whitmer, ambas bem moderadas, que ajudariam a trazer o eleitor que optou por Trump em 2016. Mas isso se tornou cada vez menos relevante, especialmente com o bom desempenho de Biden nas pesquisas, em praticamente todos os estados do Cinturão da Ferrugem. A escolha deveria atender o movimento que surgiu nas últimas semanas. O Black Lives Matter, se tornou o peso na balança da escolha dos democratas. Alguém que pudesse ao mesmo tempo conquistar os votos de uma juventude negra que estava raivosa contra o sistema que havia assassinado George Floyd, mas também pudesse conquistar o apoio de eleitores que apoiam o BLM, mas discordam da violência por trás dos protestos. No final, a escolha era óbvia, deveria ser uma candidata negra. Então surgia 3 nomes: a deputada Val Demings(Flórida-10), a senadora estadual Stacey Abrams (Georgia) e é claro a senadora Kamala Harris (California).
Mas afinal quem é Kamala Harris?
Nascida em Oakland, California, Kamala Devi Harris é filha de imigrantes, seu pai, professor emérito da Universidade de Stanford, é Jamaicano e a mãe, doutora em endocrinologia por Berkley, é Indiana. A escolha de uma companheira de chapa proveniente de uma família de imigrantes, mostra que a campanha de Biden/Harris pretende fazer uma contraposição às politicas anti-imigratórias que se baseou a administração Trump nestes últimos anos.
Harris é formada em Ciência Política e Economia pela Howard University em Washington D.C e Juris Doctor pela Universidade da Califórnia. Fez carreira jurídica no estado da Califórnia, sendo promotora-assistente do condado de Alameda. Em 2003 foi eleita como Procuradora Distrital de São Francisco, cargo que ocupou até 2011. Durante seu mandato focou em combater crimes violentos, como homicídios, além de crimes não violentos, como ambientais. Além disso, Harris aumentou a taxa de condenação contra criminosos de 50% para 76%, e no que envolve traficantes aumentou de 53% para 76%.
Em 2010, foi eleita como Procuradora Geral do Estado da Califórnia, cargo que a deu projeção nacional. Durante seu mandato como Procuradora Geral do Estado, focou nos problemas evasão escolar e responsabilização das famílias, no combate à violência policial, no direito à união civil de casais do mesmo sexo, no ostracismo da pena de morte no Estado da California. Com a morte do Juiz da Suprema Corte Atonin Scalia, chegou a ser cogitada pelo então presidente Barack Obama, como potencial substituta. Mas com a oposição do senado, controlado pelos republicanos, de pautar qualquer indicação, preferiu não aceitar o convite.
Em 2016 concorreu ao senado, para ocupar a vaga deixada pela senadora Barbara Boxer. Vencendo com mais de 61% dos votos, com uma plataforma pró-imigração. Durante seus poucos anos no senado, se destacou por sua oposição a Donald Trump e suas nomeações de gabinete. Foi extremamente dura na sabatina de Jeff Sessions para Procurador Geral dos Estados Unidos e Betsy DeVos para Secretaria de Educação. Denunciou e pediu a renúncia de membros do próprio partido, como seu colega, Senador Al Franken (Minnesota) após acusações de assédio sexual. Além disso se colocou contrária a movimentos contra o Estado de Israel, considerando o um aliado importante. Harris demonstrou no Senado, uma postura extremamente diferente a alguns colegas de partido, como Bernie Sanders, apoiando o aumento de gastos para a defesa no Orçamento de 2021. É membro da Frente Negra do Congresso (Congressional Black Caucus), Frente Asiática e Pacifico-Americana do Congresso (Congressional Asian Pacific Amercan Caucus).
Kamala Harris é a terceira mulher a ser candidata a vice-presidente em uma chapa dos dois maiores partidos americanos, depois da democrata Geraldine Ferraro (1984) e da republicana Sarah Palin (2008).
Com relação às suas posições em temas controversos Kamala Harris, tem posições mistas em comparação com o Partido Democrata:
Aborto: Apoia o direito ao aborto e o Planned Parenthood.
Ações Afirmativas e Cotas: É favorável a utilização da raça como fator para o ingresso em universidades públicas.
Pena de Morte: Se opõe, mas considera que deva ser considerado caso a caso. Com o retorno da política federal de pena de morte, Harris patrocinou uma lei que proibiria a pena de morte em todo o território americano.
Maconha: Se opôs, enquanto Procuradora do Estado da Califórnia a tentativa de legalização para fins recreacionais. Todavia mudou de posição e apoiou o projeto do Senador Cory Booker para retirada da maconha do Ato de Substâncias Controladas, o que em tese legalizaria à nível federal.
Educação: Propôs o financiamento federal para estudantes de baixa renda em universidades públicas. Além disso propôs o perdão às dívidas estudantis de até $20,000, desde que alguns critérios fossem observados.
Armas: Apoia a Segunda Emenda, mas defende que antecedentes criminais sejam checados e a obrigatoriedade de exames psicotécnicos periódicos.
Imigração: Apoia a decisão de cidades e estados de se considerarem Santuários, onde as forças policiais não poderão questionar a situação legal do indivíduo nem colaborar com ICE (Polícia de Imigração). Apoiou o DACA e o Dream Act, que concediam residência temporária a milhões de crianças que haviam chegado aos Estados Unidos trazidos pelos pais. Se opôs ao aprisionamento de crianças em ambientes precários e separados dos pais.
Kamala Harris não é da ala radical nem da ala moderada. Transita bem nas diversas alas do partido. Nacionalmente é bem conhecida inclusive em estados republicanos. Harris aumenta as chances de Biden ganhar em uma das regiões mais importantes, o Cinturão da Ferrugem (Rust Belt) nos estados de Minnesota, Wisconsin, Iowa Ohio e Pennsyvania. Além disso aumenta as chances de vencer no Cinturão do Sol (Sun Belt), em especial nos estados do Arizona, New Mexico, Texas e Georgia.
Uma questão importante que precisa considerada é que as chances de Kamala Harris se tornar presidente, substituindo uma possível incapacidade de Joe Biden são altas. Joe Biden terá 78 anos quando assumir a presidência em Janeiro de 2021, e já demonstrou lapsos de senilidade em diversas oportunidades. Isso será levado em consideração nestas eleições e a capacidade de Kamala Harris assumir o comando do país também será colocada em cheque.
Em uma eleição com a vantagem para Biden/Harris batendo na porta da Casa Branca, é necessário que a campanha tenha cuidado e saiba como e quando responder aos ataques da campanha Trump/Pence. O equilíbrio será necessário.
Daniel Pimenta, graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), especialista em política eleitoral com foco na política Israelense, Britânica, Americana e Portuguesa.
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